Discussão sobre a controversa decisão do secretário estadual da Educação, Renato Feder, de digitalizar os materiais didáticos em São Paulo e seus possíveis impactos negativos.
O recente relatório da UNESCO, “A tecnologia na educação: UMA FERRAMENTA A SERVIÇO DE QUEM?”, recomenda que a tecnologia seja introduzida na educação com base em evidências que demonstrem sua eficácia, equidade, escalabilidade e sustentabilidade. O relatório enfatiza que o uso da tecnologia deve complementar a educação baseada na interação humana, sendo uma ferramenta que atende aos melhores interesses dos estudantes.
Decisão controversa e suas implicações
Em contramão ao que diz a UNESCO, o secretário estadual de Educação, Renato Feder, da gestão de Tarcísio de Freitas, anunciou que a partir de 2024 a rede de educação paulista contará apenas com conteúdo didático digital, eliminando os livros impressos para estudantes a partir do 6º ano do ensino fundamental. Nessa perspectiva a tecnologia deixa de ser uma ferramenta complementar e se torna o material principal . Essa decisão unilateral foi tomada sem consulta aos estudantes, professores ou à comunidade escolar, e resultará na perda de aproximadamente R$120 milhões em livros didáticos impressos, afetando mais de 1,4 milhão de alunos.
Motivações e consequências
Feder, ex-executivo de uma empresa de tecnologia, parece estar influenciado por interesses que não são claros, mas que podem estar relacionados ao lucro das empresas de tecnologia. O relatório da UNESCO ressalta que há poucas evidências robustas sobre o valor agregado da tecnologia digital na educação, e muitas das evidências disponíveis são produzidas por aqueles que estão tentando vender essas tecnologias.
Medidas semelhantes foram adotadas na Suécia, que recentemente decidiu retornar aos livros impressos após observar resultados desastrosos. A ministra da Educação da Suécia, Lotta Edholm, alertou que a digitalização acrítica das salas de aula poderia levar a uma geração de analfabetos funcionais. Se um país como a Suécia, com amplo acesso a tecnologias de qualidade, enfrentou tais desafios, os impactos no Brasil, e especificamente em São Paulo, podem ser ainda mais severos.
Falhas na implementação e impactos na Educação
Em São Paulo, a entrega de tablets durante a pandemia foi um fracasso, com kits multimídia obsoletos e problemas de garantia. Além disso, Renato Feder anunciou um sistema de bônus diferenciado para professores baseado no desempenho dos alunos na prova Saeb, semelhante ao conceito de “funcionário do mês”. No entanto, essa lógica empresarial não é eficaz na educação, que depende de projetos de longo prazo e investimentos contínuos.
Um chamado à reflexão
As decisões de Renato Feder refletem uma visão empresarial e liberal que pode prejudicar gravemente a educação pública. A substituição dos livros didáticos impressos por conteúdo digital, sem uma base sólida de evidências e sem considerar as necessidades e realidades dos estudantes e professores, pode agravar o abandono e o descaso na educação pública. É crucial que a tecnologia na educação seja implementada de forma crítica e responsável, garantindo que realmente beneficie os estudantes e a comunidade escolar.