
Como são colocados os alvos nos corpos de crianças e jovens negros?
Escrevo este texto ao pensar em como as ações de pessoas brancas contribuem com o colocar destes alvos todos os dias. Duas mortes de jovens no Rio de Janeiro nos últimos dois dias ganham pouquíssima repercussão nacional, mas evidenciam mais e mais uma vez uma realidade que atravessa o peito e que reforça a urgência da ação antirracista: o genocídio de crianças e jovens pretos.
Mas como estes se tornam os corpos classificados como matáveis não só pelo Estado, mas pela sociedade brasileira privilegiada?
Para além de falar sobre a atuação precária e limitada da polícia (não só a militar), escrevo aqui para refletir como a sociedade civil branca contribui para que alvos sejam colocados dia a dia sobre os corpos destas meninas e meninos negros. Afinal, você branco ou branca, já parou para pensar como é construída esta realidade em que eles e elas são desumanizados, negligenciados e caracterizados como matáveis?
Além da necessidade óbvia de justiça nestes casos em específico, é urgente que toda a sociedade se responsabilize, principalmente brancos privilegiados como eu.
Quando um corpo negro é classificado como “matável”
Um corpo negro é classificado como “matável” toda vez que uma mesa de debates (mesmo as organizadas pelo campo do terceiro setor) exclui mulheres ou homens negros.
Um corpo negro é classificado como “matável” toda vez que um processo seletivo histórica e recorrentemente seleciona exclusivamente pessoas brancas (mesmo a população negra sendo a maioria no Brasil).
Um corpo negro é classificado como “matável” quando é visto como o outro, quando brancos e brancas continuam – mesmo que muitas vezes com uma suposta perspectiva solidária – restringindo-os a espaços de fala sobre diversidade, inclusão ou mesmo desigualdades.
Um corpo negro é classificado como “matável” quando uma pessoa nunca leu ou mal consegue lembrar de ter lido um livro escrito por uma pessoa negra
Um corpo negro é classificado como “matável” quando autores negros e negras sequer são lembrados enquanto pesquisadores ou cientistas pelas invenções que fizeram e revolucionaram a humanidade.
Não basta não ser racista. E preciso ser antirracista!
O que aconteceu com João Pedro, Ágatha, João Victor e muitos outros e outras não diz respeito somente à realidade das comunidades vulneráveis do país. O genocídio de crianças e jovens negros – que acontece todos os dias no Brasil – diz respeito ao que nós, brancos prioritariamente, escolhemos ou deixamos de escolher nos nossos espaços de privilégio e poder financeiro, político, social, acadêmico, cultural, etc.
Lembremos eu e você (brancos desta rede social) que é urgente ser antirracista sempre, mas principalmente hoje, agora! Uma luta de todo dia e em que devemos estar alertas, em ação contínua e permanente.
#RacismoMata #JoãoPedro #VidasNegrasImportam

Gabriel Maia Salgado
Gabriel Maia Salgado é jornalista, especialista em sociologia e coordenador de projetos sociais
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